MUITO QUE BEM.

Eu imaginava que isso pudesse acontecer, mas resolvi seguir em frente do mesmo jeito. Azar o meu, claro. Sim, porque, agora o infeliz não cala a boca mesmo! Bastou se dar conta de que eu escreveria sobre o que acontece e, principalmente, o que ele diz, que a matraca não fechou mais.
Eu sei, eu sei, deslumbrado. Pura e simplesmente. Tipo ator da Malhação, quando é reconhecido no shopping e se acha o supra sumo da dramaturgia nacional, sabe? Não sabe nem chorar em cena (e fica fazendo aquela cara de coco duro, sabe? Toda torcida, com a boca meio aberta e os olhos arregalados, parecendo que vão saltar das órbitas), mas acredita piamente que é o Lawrence Olivier tupiniquim.
Bom, mas voltando à vaca fria, se, antes falava pelos cotovelos, agora a coisa está pior. Muito pior. Ele está pensando que TUDO vai aparecer aqui. Ledo engano, Leda Nagle! Isto é um blog (MEU blog), não uma democracia. Eu continuo descartando aquilo que não vale a pena.
(a saber, 95% de tudo o que o Talarico fala, definitivamente, não vale a pena)

Enfim, acabei falando de tudo isso e não contei o que aconteceu hoje. Estava eu no ônibus nosso de cada dia, indo para o Centro, quando notei um leve bate-boca entre o motorista e alguém não identificado na parte de trás do coletivo (odeio essa gente que chama ônibus de “coletivo”, para ficar mais politicamente correto). Dado que, de uns tempos para cá, não saio de casa sem meu MP3 (posso sair sem as calças, mas NUNCA sem o MP3), que virou um escudo mais do que eficaz contra gente chata e conversativa (é só enfiar os fones nos ouvidos e pronto!, adeus conversas e comentários de velhas-xaropes-e-carentes-que-não-tem-atenção-dos-netos-e-vêm-descarregar-na-gente-que-não-tem-nada-a-ver-com-isso), às vezes acabo perdendo coisas incríveis que acontecem mas não me dou conta. Azar. Prefiro isso a ter que ficar ouvido uma velha gorda e suada me contando da cirurgia de hérnia de disco do filho do meio. Mas como ouve movimentação por parte do motorista, pude perceber que tinha bafo rolando. Olhei discretamente para trás e, batata!, tinha uma velha querendo descer.
Acho que existe um ímã na porta do ônibus que atrai velhas xaropes e que gostam de bater boca por nada. Na verdade, velhas xaropes batem boca por nada, isto é um fato.
Mas o motorista. O motorista! Vi que ele gesticulava enfaticamente e tinha o tom de voz exaltado. Obviamente, desobstruí meus canais auditivos (leia-se: tirei os fones) e preparei-me para saborear o momento. Atentando para a discussão, depreendi que a velha queria descer, mas a porta não estava posicionada exatamente NA parada de ônibus. Grande coisa!, dirão vocês. Concordo, grande coisa! Era só descer e pronto, não precisava aquele auê todo por causa de 50 centímetros. Mas não, ela não desceu. Ficou gritando (sim, GRI-TAN-DO) que o motorista “tinha que deixar o ônibus E-X-AT-A-M-E-N-T-E na parada do ônibus, senão ela não ia desceeeeeeeeeeeeeer!!!!!!!!!!”. Enquanto isso, o bravo motorista estava argumentando que não havia necessidade de parar o ônibus novamente só para que ela descesse, afinal, ela tinha espaço mais do que suficiente para descer em segurança. De fato, havia. Eu olhei (sim, sim, me dei este desfrute). Mas a velha xarope continuava arengando que “aquilo era um abuso! Onde é que já se viu o motorista não querer parar de novo para que ela pudesse descer! Que mundo é esse?! Onde é que nós estamos?!” e por aí vai. Resumo da ópera: o infeliz do motorista teve que parar o ônibus uma segunda vez, na mesma parada, para que a velha miserável descesse. Senão, muito provavelmente, ela continuaria agarrada à porta e gritando que o mundo está perdido.
Quando estava colocando os fones de volta, ouvi aquela vozinha debochada dizendo: Que momento! Não dá nem pra jogar esta desgraçada do ônibus porque, mesmo depois de morta, periga a miserável levantar do caixão para reclamar do espaço da cova...