Pessoas em sã consciência diriam que não tenho mais idade para amigos imaginários. Ok. Concordo. Os amigos imaginários devem ficar para trás, junto com a infância. E eu os deixei, confesso. Pelo menos pensava ter deixado. O que descobri, da pior forma possível, é que um deles não me deixou.
No início pensei que era coisa da minha cabeça, uma esquizofreniazinha básica, qualquer coisa do gênero. Aí me dei conta que o buraco era mais embaixo. Ou em cima. Sei lá.
Vocês estão rindo (aposto) porque não é com vocês. Alguém consegue imaginar o que é ter uma companhia invisível 24 horas por dia? Como se chama isso? Um amigo imaginário obsessor? Ou uma possessão amigável? Não importa. O caso é que às vezes é chato, às vezes é inconveniente, no mais das vezes, constrangedor, principalmente quando ele resolve tecer seus comentários descabidos e me força a crises homéricas e incontroláveis de riso. Sim, não vou ser hipócrita a ponto de dizer que não me divirto horrores com estes comentários. Principalmente por que é uma diversão solitária (a menos, é claro, que alguém considere uma voz vinda do nada como uma pessoa). Melhor ainda, é, literalmente, uma piada interna!
Qualquer um chamaria isso de loucura total, completa e irreversível. Eu chamo de Talarico. Quer dizer, eu chamo não, ele se chama. Talarico, o espírito obsessor camarada. Chega a ser simpático, não? Desde que a pessoa não se importe de ter alguém falando e palpitando no seu ouvido 24 horas por dia (alguns maridos chamam isso de esposa, ou sogra, mas não é a mesma coisa, me acredite).
O Talarico é legal. Sério! Não sei como ele é, porque não o vejo, apenas ouço, mas, segundo o próprio, é um sujeito muito bem apessoado. Para mim, isso é um eufemismo para feio, mas deixa pra lá... A voz não é das mais marcantes, nem muito grave, nem muito aguda. O que não deixa de ser um alívio, porque ter um Julio Iglesias tagarelando o tempo inteiro deve ser o inferno sobre a terra. Cá entre nós, eu acho que ele é baixinho, magrelinho, com o cabelo lambido e emplastado de gomalina, permanentemente metido em um terno branco e com aquele bigodinho bagaceiro (aqueles que eram só um fiozinho em cima do beiço, sabe?) que devia ser proibido por lei. Porque, obviamente, ele é um exemplar genuíno da malandragem clássica. Isso não se discute! Mesmo sem conseguir vê-lo, eu sei que ele é um traste, que não vale nada. Talvez por isso eu goste tanto dele e não me importo que ele fique me atormentando o dia todo, todos os dias, com suas perguntas e comentários descabidos.
Claro, não cheguei a esta brilhante conclusão só ouvindo o cara falar. Não. Mas o jeito que ele fala me contou muito do que ele é. Ou acha que é. Ou era. Não sei. Esta parte é meio confusa, porque como não sei se ele está morto ou se é só fruto da minha imaginação, não sei se imaginei ou inferi tudo isso. Também não importa. O que importa é que o cara está aí e não cala a boca.
E a frase que ele mais diz, principalmente para exprimir seu juízo a respeito de alguma coisa, pessoa ou situação é: Que momento! Porque, de fato, na maioria das vezes, não se tem outra coisa para dizer, e sou obrigada a fazer eco ao Talarico:
QUE MOMENTO!!
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