Isto já aconteceu faz um tempinho, mas permaneceu tão vivo em minha memória (com uma riqueza angustiante de detalhes) que pensei que não teria paz enquanto não dividisse com alguém. O cenário, claro, um ônibus. Cheio dos passageiros mais toscos que se pode imaginar. Não que exista algum ônibus com outra raça de passageiros, mas vai saber... Enfim, lá estava eu, de pé, sacolejando em um ônibus lotado, excomungando todos aqueles infelizes que estavam sentados, quando a moça que estava ao meu lado dá um grito colossal:
Moça ao meu lado – PAULAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!Olhei levemente para o lado (sabe aquele olhar meio enviesado, de quem não quer realmente olhar, com medo do que possa ver? Então, este mesmo), desesperada de medo que a Paula em questão fosse eu. Não que existam muitas pessoas que me chamem de Paula atualmente, acho que esta lista se restringe a umas quatro ou cinco pessoas, e nenhuma delas com a mais remota chance de estar naquele ônibus, mas sabe como é o senso de humor da vida e aquela coisa. Olhei para Moça ao Meu Lado e vi que (ALELUIA!!) a tal Paula não era eu. Mais confortável na minha posição de Paula Anônima diante da situação, me preparei para apreciar mais um daqueles espetáculos que só quem é chinelo sabe promover. Sim, tem coisas que só um chinelão faz pra você! E esta era uma destas ocasiões! Vamos dizer Aleluia, irmãos?
Moça ao Meu Lado – PAULA!!!!!!!! Não é acredito que é tu, mulé*!!! É tu mesmo???
Paula do Sorriso Amarelo – Oi Fulana (confesso que não guardei o nome de moça. Uma falha lamentável, assumo!), tudo bom?
Moça ao Meu Lado – Mas olha só que coincidença!! Ainda ontem eu tava falano de ti pra mãe! E hoje tu tá aqui!! Ma quanto tempo, mulé! Que tutá fazeno?
Paula Sem a Mínima Vontade de Conversar – Pois é, tô trabalhando. Casei. Tô indo.
Moça ao Meu Lado – Mas tu vê! Porque faz um tempão que a gente não se vê, né Paula? Quanto tempo, pra mais de ano, né Paula?
Paula – ...
Moça ao Meu Lado – Eu tô trabalhano numa loja, né Paula. Uma coisa, né Paula. De segunda a segunda, uma folga na semana e um salário que é uma miséria. Aí não dá, né Paula? Até já tô procurano outra coisa, porque, tu sabe, né Paula, eu não naisci pra ficar atrás de balcão. Nunca gostei dessa coisa, mas a gente tem que pagar as contas, né Paula?
Paula – ...
Moça ao Meu Lado – Mas e tu casô, é Paula? Eu não, que eu não tenho sorte com macho, né Paula? Tu lembra, né Paula? Agora eu até arranjei um namorado, tô dando graçasadeus, né Paula? É sargento do Exército, côsa mais querida! Vai lá em casa e tudo! Porque assim que é certo, né Paula?
Quando a coisa começou a descambar pra este lado, eu pensei que não ia demorar muito pra desgraçada dizer que era da igreja. Ou, pelo menos o namorado “côsa mais querida”. Mas que um dos dois era, ah!, não tinha dúvida! Dito e feito!
Moça ao Meu Lado – Porque ele também é lá da igreja, né Paula? Não, hoje em dia não dá pra namorar qualquer macho que aparece, né Paula? O pastor vive dizendo que a gente não pode acreditar no que o macharedo fala, porque eles só qué se passar com nós, né Paula? Mas eu tive sorte, né Paula? O meu é um amor! A mãe vive dizendo que eu tenho que casar com ele, né Paula, mas eu não quero. Sô muito nova pra essas coisas, né Paula? Ainda quero poder sair, ir pro meu som, né Paula. É coisa bem boa ir pros som, né Paula? Lembra, Paula, quando a gente ia pros som?
E a coisa se estendeu por mais intermináveis 10 minutos,
** Alguém pode, peloamordedeus, me explicar o que vem a ser um "som". Eu sei que som é som, mas um "som", confesso que fico devendo.
9 comentários:
Os ônibus só podem ser uma espécie de pré-purgatório, porque a quantidade de provações pelas quais a gente tem de passar neles não tá escrita!
P.S.: Adorei as expressões do diálogo! Novidades pitorescas que tentarei incorporar à minha fala cotidiana hehehe (eu também não sei o que é "som", mas é certo que a gente deve estar perdendo!)
Com certeza, né Carol? Quanto tu vier pra cá a gente tem que descobrir o que é e onde tem este tal de "som", porque a gente tá perdendo, né Carol!! E quem disse que o Rio de Janeiro é o purgatório nunca andou de ônibus!
hoje, no ônibus (onde mais?), um véio assoou o nariz na minha cara. "na minha cara" não significa na minha frente ou perto de mim: significa que eu senti respingos de ranho na minha cara. eis a minha indignação.
Sou solidária e entendo teu drama, Carol. Passei por situação semelhante com uma véia (provavelmente tuberculosa) tossindo desesperadamente na minha cara. Sim, também senti os respingos de baba na minha bochecha! Minha esperança era que ela sufocasse de tanto tossir e morresse duma vez, e parasse de, praticamente, escarrar na minha cara!
Talvez fosse o caso de apelarmos para Pai Arnápio ou o Pastor Luis Cláudio.
Oi!
Recebi uma mensagem de ti (nhaco2) no meu msn com um link para umas fotos em que, supostamente, eu apareceria. Como ela estava cheia de erros, tenho praticamente certeza que o teu msn tá "bichado". Mas, só para confirmar: tu não me enviaste nenhum link, né?
Bjs,
Fê
PS: leio sempre tuas histórias (ainda que nunca escreva)
ana, eu só acredito no pastor luis cláudio, o milagre em forma de gente. ah, hoje um véio que estava sentado ao meu lado no ônibus começou a tossir em mim, obviamente sem proteger o rosto, provavelmente achando que estava expelindo água benta, e não uma catarrada fedida. mudei de lugar na hora.
Fê:
Mandei não. Meu MSN só existe pra bonito, porque nem uso mais. Pode ficar tranquila que vou escrever mais.
Carol:
Vou começar a andar com um porrete na pasta, pra tacar na cabeça de quem tosse em mim. E vou alegar legítima defesa contra a gripe A. Quero ver quem me prende!
hahahahahahaha inconveniência pouca é bobagem!
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