quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ENTREOUVIDAS...

Dado que a pessoa não pode passar 24 horas por dia com os ouvidos abençoadamente tapados pelos fones do seu MP3, é fatal que acabe ouvindo algumas coisas que preferia não ouvir. Não pelo inusitado da coisa, mas pelo desespero de não poder virar para o animal que está falando e gritar "NÃO É ASSIM, SUA BESTA!!!". Eu poderia explicar melhor, mas prefiro deixar que os fatos falem por si e vocês vão me entender. E me dar razão!

Cena 1 (uma secretaria municipal qualquer):
Homem ao telefone – E aí, Alemão? Tudo? (tudo o que, meu deus??? Custa perguntar "tudo bem, fulano"? Custa?) Fala, Alemão, que que manda?
Alemão - ...
Homem ao telefone – Como assim trocar de carro, Alemão? (como assim, me pergunto eu. Existe alguma coisa para ser entendida aqui, além de que o Alemão não está mais satisfeito com o seu veículo automotor?)
Alemão - ...
Homem (aumentando consideravelmente o volume da voz) ao telefone – Olha só, Alemão, eu tenho Palio, Corsa, Gol bolinha. É só tu falar, Alemão. Me diz o que tu quer que eu resolvo tudo.
Alemão - ...
Homem (olhando em volta enquanto aumenta ainda mais o volume da voz) ao telefone – Não, Alemão, olha, vamos fazer assim. Tu liga lá e fala com a Bruna, tá? Diz que fui eu que te mandei ligar e ela vai te dar um atendimento todo especial, tá, Alemão? Claro, Alemão! Uma rica duma guria! Pode ter certeza que ela vai te dar uma atenção toda especial! (confesso que a esta altura já estava imaginando a tal Bruna, uma rica duma guria, recebendo o cara usando um roupão de seda e com uma taça de champagne na mão. Talvez influência do nome, sei lá. Ou por ela ser uma rica duma guria. Vai saber...) Enquanto isso, Alemão, tu vê aí o que tu quer, modelo, cor, a faixa etária de preço que tu quer gastar, que eu dou uma olhada no que eu posso estar fazendo por ti. Tá bom, Alemão?
Alemão - ...
Homem (com cara de quem deu um presente de natal pro Alemão) ao telefone – Queísso, Alemão, a gente é parcero (sic)!!! Se falamo (mais sic ainda)!!!

Ok. "A gente é parcero" e "Se falemo" não me causa mossa. Agora, faixa "etária" de preço... Confesso que me pegou. Bem pegado...


Cena 2 (mesma secretaria municipal qualquer):
Outro Homem ao telefone – Então, Fulano, é como eu te expliquei. Eu tô aqui na Secretaria Municipal Qualquer, e vou ver o teu caso. Mas tu tem que ver se tu tem aí uma ficha XYZ, Fulano. É. Que foi junto com a papelada, Fulano. Ela disse que mandou tudo junto pra ti. Mas não tem problema, Fulano. Eu vejo aqui com eles quais os papéis que tu tem e te ligo, tá bom? (alguém, por favor, me explique como se eu tivesse 2 anos como é possível que os funcionários da Secretaria Qualquer pudessem saber quais os papéis que Fulano tinha EM CASA???! Hum, alguém?) Claro, Fulano, como eu te falei antes. A gente vê o que precisa de formulários e preenche com os dados. Isso! Metragem, área, o valor afetivo da obra, essas coisas, Fulano. Claro, claro! Eu entro em contato, Fulano. Abraço!

Por favor, engenheiros, arquitetos, peritos, corretores, pedreiros, afins, o que vem a ser o valor "afetivo" de uma obra? Seria o quanto de amor foi misturado com o cimento? Ou o quanto de apego o pedreiro desenvolveu pela construção? Respostas urgentes, please!


Vocês podem não acreditar, porque eu mesma ainda não acredito, mas ambos os diálogos (ou seriam monólogos, já que os dois caras falavam feito matracas e não davam chance nem de Alemão nem de Fulano retrucarem qualquer coisa?) são reais, e foram transcritos com o máximo de fidelidade que permite um lapso temporal de, mais ou menos, 4 horas entre o evento e a transcrição.

2 comentários:

Carol disse...

Hahahaha! Eu nunca tinha ouvido falar em "faixa etária de preço"! Acho que faltei no dia que explicaram isso na aula de Economia :P

Ana Paula disse...

Puxa, Carol! Tu era minha esperança! Tinha que faltar justo nesta aula?